Notícia
Consumo excessivo de alimentos ultraprocessados aumenta o risco de declínio cognitivo
Ingestão diária superior a 20% de alimentos ultraprocessados por idosos e adultos de meia-idade foi associado ao aumento do risco de declínio cognitivo acentuado
Freepik, arte
Fonte
Jornal da USP
Data
quinta-feira, 8 dezembro 2022 11:55
Áreas
Nutrição Clínica. Nutrição Coletividades. Saúde Pública
Pessoas que consomem diariamente mais de 20% de alimentos ultraprocessados correm o risco de sofrer declínio cognitivo acentuado, condição do cérebro que leva à perda da capacidade de realizar atividades que estão diretamente relacionadas ao dia a dia. Foi o que constatou uma pesquisa realizada com cerca de 11 mil pessoas, recrutadas em seis cidades brasileiras (Belo Horizonte/MG, Porto Alegre/RS, Rio de Janeiro/RJ, Salvador/Bahia, São Paulo/SP e Vitória/ES) e acompanhadas por um período médio de oito anos.
Ultraprocessados são aqueles alimentos industrializados, carregados de açúcares, gorduras, sal e substâncias sintetizantes (emulsificantes, conservantes) que, embora tenham alto teor calórico, possuem pouca composição nutricional.
A quantidade relatada na pesquisa seria o equivalente a consumir diariamente mais de 400 calorias em alimentos industrializados (pão de forma, hambúrgueres de redes de fast-food, refrigerantes e bolachas recheadas, dentre outros), em uma dieta de 2.000 calorias/dia.
Os resultados estão no artigo ‘Association Between Consumption of Ultraprocessed Foods, Cognitive Decline’ publicado na revista científica JAMA Neurology, tendo como primeira autora a pesquisadora Dra. Natália Gomes Gonçalves, do Laboratório de Patologia Cardiovascular do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e fazem parte de uma ampla pesquisa chamada Estudo Longitudinal Brasileiro de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), que gera conhecimentos científicos sobre doenças crônicas no País.
A coleta de dados ocorreu entre os anos de 2008 e 2017 e analisados entre dezembro de 2021 e maio de 2022. Os participantes são servidores públicos, homens e mulheres com idade entre 35 e 74 anos. O grupo era composto em sua maioria de mulheres (54,6%), brancos (53,1%) e com no mínimo um diploma universitário (56,6%). O Índice de Massa Corporal (IMC) médio dos voluntários era de 26,9 e ingestão calórica de 2.856 calorias/dia. O IMC é calculado dividindo o peso (em quilos) da pessoa pela altura (em metros) ao quadrado.
A Dra. Natália explicou ao Jornal da USP que o declínio cognitivo acontece naturalmente ao longo de todo o processo de envelhecimento. Porém, o que se constatou no estudo foi que houve perda acelerada de cognição entre todos os participantes da pesquisa, mesmo entre os mais jovens, por volta dos 35 anos. Segundo a pesquisadora, esse achado foi muito importante porque essa faixa etária é justamente a idade da janela mais importante para prevenção de doenças neurodegenerativas, que têm início bem antes da apresentação dos sintomas na velhice. “Nessa idade, as pessoas precisariam se preocupar em ter uma alimentação mais saudável para assegurar melhor saúde cerebral ao envelhecer”, disse a pesquisadora.
A Dra. Cláudia Suemoto, professora da FMUSP, coordenadora da pesquisa e especialista em envelhecimento cerebral, demências e suas associações com doenças cardiovasculares, disse que a reserva cognitiva de uma pessoa começa a ser construída na infância e que o auge desse desenvolvimento acontece por volta da terceira década. Após esse período, há um declínio lento e progressivo associado ao envelhecimento. Porém, esse declínio pode ser mais rápido mediante a presença de alguns fatores de risco como hipertensão, diabete e obesidade. Agora, alguns estudos preliminares mais recentes estão demonstrando que os ultraprocessados também podem acelerar esse declínio.
O estudo também mostrou que a alta ingestão dos ultraprocessados (superior a 20%) resultou em um declínio 28% mais rápido na função cognitiva global (a função cerebral que reúne todas as habilidades cognitivas, a de memória, a de fluência verbal e a função executiva) e 25% na cognição executiva (função do cérebro ligada às habilidades de planejamento, execução de tarefas e resolução de problemas). A comparação foi feita com pessoas que ingeriam menos de 20% de alimentos desse grupo.
Segundo a pesquisadora, a idade influenciou na associação da porcentagem entre energia diária fornecida pelos ultraprocessados e função cognitiva. Participantes com menos de 60 anos com consumo de ultraprocessados superior a 20% apresentaram um declínio global mais rápido da cognição em comparação àqueles com consumo inferior a 20%. A associação do consumo desses produtos e a piora da cognição foi mais forte em pessoas de 35 a 59 anos, comparado com os participantes mais velhos.
A avaliação da dieta dos participantes foi feita por meio de Questionários de Frequência Alimentar (QFA), que utiliza uma lista de alimentos classificados de acordo com a extensão do processamento industrial e a frequência em que eram consumidos.
Análises
No grupo 1 estão alimentos não processados ou minimamente processados, como frutas, vegetais frescos, secos ou congelados, grãos, legumes, carne, peixe e leite, que passaram por processamento mínimo como moagem, torrefação, pasteurização ou congelamento.
No grupo 2 estão ingredientes culinários processados, como açúcar de mesa, óleos, sal e outras substâncias extraídas, prensadas ou centrifugadas de alimentos do grupo 1 ou da natureza, e que foram usados para fazer preparações culinárias.
No grupo 3 estão alimentos processados, ou seja, fabricados com alimentos in natura ou minimamente processados, e que usam ingredientes do grupo 2 para prolongar a durabilidade e modificar sua palatabilidade, tais como frutas enlatadas, pão e queijo artesanais e carne ou peixe salgado, defumado ou curado.
No grupo 4 estão os alimentos ultraprocessados: pão de forma, bolachas recheadas, sorvetes, refrigerantes, balas, doces, cereais matinais, carnes processadas (presunto, mortadela, salame), refeições congeladas de pronto consumo, etc.
Função cognitiva
Para avaliar as funções cognitivas, os voluntários realizaram testes de domínio de memória, de recordação imediata, recordação tardia e lista de palavras de reconhecimento para diagnóstico da doença de Alzheimer, além de exames de fluência verbal, semântica e fonêmica.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP.
Fonte: Ivanir Ferreira, Jornal da USP. Imagem: Freepik, arte.
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