Notícia

Evidências da interferência do ciclo circadiano sobre o ganho de peso e diabetes dos trabalhadores noturnos

Fonte

Universidade da Pensilvânia

Data

segunda-feira, 1 novembro 2021 14:05

Áreas

Nutrição Clínica. Nutrição Coletividades. Saúde Pública

Estudo do relógio biológico “comprometido” parece ter fornecido evidências para uma teoria sobre por que as pessoas que trabalham até tarde ou em horários irregulares são suscetíveis a ganho de peso e diabetes. Altas taxas de trabalhadores em turnos ganham peso e desenvolvem diabetes, o que foi atribuído a uma incompatibilidade entre o relógio biológico e seus horários, então pesquisadores da Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, criaram uma incompatibilidade relacionada ao alterar a função de uma molécula dentro dos cérebros de camundongos que encurtou seus ritmos circadianos de 24 para 21 horas. Esses camundongos que ganharam mais peso, tiveram mais açúcar no sangue e fígados mais gordos, foram corrigidos pela mudança de ambiente para um “dia” de 21 horas.

“Quando o mundo externo não corresponde aos ciclos internos do corpo, o metabolismo paga o preço. Vimos isso em nosso estudo e acreditamos que isso acontece de forma semelhante quando as pessoas trabalham em horários estranhos que não se alinham com a forma como os corpos humanos são conectados”, disse o autor sênior do estudo, Dr. Mitchell A. Lazar,  diretor do Instituto Penn Medicine para Diabetes, Obesidade e Metabolismo.

O estudo foi publicado na revista científica Science Advances e liderado pelo Dr. Lazar e a Dra. Marine Adlanmerini, pesquisadora principal de pós-doutorado no laboratório do Dr. Lazar, procuraram explorar a dessincronia circadiana, uma teoria em que uma interrupção ou alteração no relógio biológico inato de uma pessoa leva a resultados ruins. Trabalhadores em turnos – aqueles que podem trabalhar longas horas, durante a noite, ou com períodos de descanso irregulares entre o trabalho – estão sujeitos a isso, e pode ser a razão pela qual eles parecem estar em maior risco de obesidade, diabetes e doenças metabólicas, incluindo ter um fígado que retém mais gordura.

Então, para explorar se a dessincronia circadiana é uma explicação viável para isso, os pesquisadores removeram certas moléculas chamadas REV-ERB, que residem nas células cerebrais de camundongos e parecem controlar o relógio biológico do corpo, mantendo-o em ciclos de 24 horas. Quando o REV-ERB foi excluído, ele fez com que os relógios corporais dos camundongos funcionassem cerca de três horas mais curtos, o que os pesquisadores determinaram rastreando seu padrão regular de sono / vigília.

Enquanto seus relógios biológicos funcionavam mais rápido, alguns desses camundongos foram mantidos em um ciclo diário de 24 horas, com 12 horas de luz e 12 horas de escuridão. Esses camundongos, quando em sua dieta regular, foram capazes de manter seu peso sob controle. Mas, ao receberem uma dieta com maiores teores de gordura e açúcar – uma dieta comum ao americano típico -, eles ganharam mais peso e tiveram mais condições adversas, como diabetes e fígado gorduroso. Além disso, os camundongos que ainda tinham REV-ERB, mas receberam dieta rica em gordura e açúcar, não tiveram os mesmos resultados ruins.

“Uma possível explicação é que o relógio biológico dos camundongos sem REV-ERB estava em desacordo com o dia de 24 horas, o que levou a estresse metabólico no corpo”, disse o Dr. Lazar.

Uma maneira que foi “consertada” foi quando os pesquisadores ajustaram a duração do “dia” dos camundongos no laboratório para coincidir com seu relógio interno com defeito: dias de 21 horas com ciclos de 10,5 horas de luz e escuridão para coincidir com seu relógio interno de 21 horas. Quando isso aconteceu, os camundongos com os relógios alterados não eram mais tão suscetíveis aos efeitos nocivos da dieta pouco saudável.

Essa correção parecia estar de acordo com a teoria da dessincronia circadiana: uma vez que o relógio interno e o dia voltaram a se alinhar, o metabolismo pareceu operar em sua taxa normal e saudável.

“Esta pode ser uma lição sobre como prevenir ou reduzir a obesidade e o diabetes em trabalhadores por turnos”, explicou o Dr. Lazar. “Por exemplo, o horário das refeições para corresponder melhor ao relógio do próprio trabalhador de turno pode ser benéfico. Isso também seria consistente com uma série de estudos em camundongos e pessoas que sugeriram que comer em horários específicos do dia pode melhorar o controle de peso e o metabolismo. ”

Seguindo em frente, o Dr. Lazar, e a Dra. Adlanmerini e sua equipe acham que seria fundamental encontrar biomarcadores que pudessem ser testados e indicassem como o relógio biológico de uma pessoa está funcionando.

“Informações como essa podem ser combinadas com as decisões sobre quando comer, assim como o monitoramento do açúcar no sangue pode ajudar um diabético a entender quando deve tomar mais insulina”, disse o Dr. Lazar.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade da Pennsylvania (em inglês).

Fonte: Frank Otto, Universidade da Pennsylvania. Imagem: Pixabay.

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