Notícia
Substâncias com ação anticancerígena são identificadas na própolis vermelha
Estudo comprova os efeitos benéficos da própolis que em estudos anteriores já descreveram ação bactericida, antifúngica, anti-inflamatória, imunomoduladora e até mesmo de inibição de crescimento de algumas células de câncer
Acervo do pesquisador - Agência Fapesp
Fonte
Agência Fapesp
Data
sexta-feira, 25 setembro 2020 15:20
Áreas
Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Nutrição Clínica
Encontrada no Brasil apenas em colmeias de uma região de mangue no Estado de Alagoas, a própolis vermelha possui duas substâncias que podem auxiliar no combate ao câncer. Nos testes realizados em laboratório, as moléculas isoladas reduziram consideravelmente a proliferação de células tumorais em linhagens de ovário, mama e glioma.
No estudo, publicado no Journal of Natural Products, além das duas substâncias anticancerígenas, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descreveram outros seis novos polifenóis – substâncias naturais como os flavonoides e os taninos, encontradas em plantas, cereais e também no vinho – com estruturas totalmente inéditas na ciência.
“Das oito substâncias novas e isoladas pela primeira vez da própolis vermelha, duas apresentaram propriedade citotóxica anticancerígena em células de ovário, mama e de glioma. Realizamos os testes in vitro nesses três tipos de câncer por eles serem multirresistentes a diferentes drogas e, portanto, muito difíceis de tratar. Essas células têm um mecanismo, já conhecido, que superexpressa uma proteína responsável pela exclusão de drogas das células, levando à resistência medicamentosa. No entanto, os testes mostraram que as substâncias da própolis vermelha conseguiram contornar esse mecanismo, algo essencial para reduzir os tumores”, diz o Dr. Roberto Berlinck, professor no Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP) e membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP .
As descobertas são resultado de estudo coordenado pelo Dr. Berlinck, que integra o Programa BIOTA-FAPESP, e também de Projeto Temático coordenado pelo pesquisador Dr. Ronaldo Pilli.
Biblioteca de produtos naturais
De acordo com o Dr. Berlinck, os polifenóis da própolis vermelha brasileira representam uma nova classe de compostos antiproliferativos do câncer, responsáveis pela inibição de crescimento tumoral e morte celular. “Inclusive, na comparação com testes realizados com um quimioterápico conhecido [doxorrubicina], as substâncias tiveram resultados melhores”, afirma.
É sabido que produtos naturais constituem uma das principais fontes de novas drogas para o tratamento de doenças como o câncer. Por isso, a importância de estudos de bioprospecção, como o realizado com a própolis vermelha, para a detecção de novas substâncias.
Dessa forma, o estudo comprova os efeitos benéficos da própolis. Estudos anteriores já descreveram ação bactericida, antifúngica, anti-inflamatória, imunomoduladora e até mesmo de inibição de crescimento de algumas células de câncer. “As abelhas produzem a própolis para a proteção da colmeia. Portanto, não é por acaso que a resina da própolis tem atividade de proteção contra bactérias e fungos. Isso já havia sido descrito em estudos que usaram a própolis bruta. O que fizemos em nosso estudo foi descobrir as substâncias isoladas e comprovar o efeito anticâncer”, explica o Dr. Berlinck à Agência Fapesp.
No mundo, existem três variedades de própolis: a verde, a marrom e – a mais rara delas – a vermelha. O Brasil é um dos maiores produtores de própolis no mundo. A variedade vermelha só é encontrada em Alagoas, onde é produzida por abelhas que se alimentam da resina da árvore Dalbergia ecastophyllum – popularmente conhecida como rabo-de-bugio pela cor rubra de sua seiva.
“Pretendemos agora compreender como as abelhas processam essa resina da árvore. Será que elas modificam a resina transformada em própolis, ou simplesmente a utilizam como tal? Nosso objetivo será focar em responder essas questões em nossas próximas investigações”, disse o pesquisador.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Agência Fapesp.
Fonte: Maria Fernanda Ziegler – Agência FAPESP Imagem: Acervo do pesquisador – Agência Fapesp.
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