Notícia
Novo tratamento pode reverter a doença celíaca
Nova tecnologia pode ser aplicável a outras doenças e alergias autoimunes
Pixabay
Fonte
Universidade Northwestern
Data
sábado, 26 outubro 2019 15:30
Áreas
Nanotecnologia. Nutrição Clínica.
Os resultados de um novo estudo clínico de fase 2 usando a tecnologia desenvolvida na Escola de Medicina da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, mostraram que é possível induzir tolerância imunológica ao glúten em indivíduos com doença celíaca. As descobertas podem preparar o caminho para que pacientes celíacos possam tolerar o glúten em sua dieta.
Após o tratamento com a tecnologia, os pacientes foram capazes de comer glúten com uma redução substancial na inflamação. Os resultados também mostram uma tendência em proteger o intestino delgado dos pacientes da exposição ao glúten. As descobertas foram apresentadas no último dia 22 de outubro em conferência da Semana Europeia da Gastroenterologia, em Barcelona, na Espanha.
A solução é uma nanopartícula biodegradável contendo glúten que ensina ao sistema imunológico que o antígeno (alérgeno) é seguro. A nanopartícula age como um “Cavalo de Troia”, escondendo o alérgeno em um local seguro para convencer o sistema imunológico a não atacá-lo. Além da doença celíaca, a descoberta define o cenário para a tecnologia potencialmente tratar uma série de outras doenças e alergias, incluindo esclerose múltipla, diabetes tipo 1, alergia ao amendoim, asma e muito mais. A tecnologia foi desenvolvida no laboratório do Dr. Stephen Miller, professor de microbiologia e imunologia da Universidade Northwestern , que passou décadas refinando a tecnologia.
“Esta é a primeira demonstração de que a tecnologia funciona em pacientes”, disse o Dr. Miller.. “Também mostramos que podemos encapsular a mielina na nanopartícula para induzir tolerância a essa substância em modelos de esclerose múltipla, ou colocar uma proteína das células beta pancreáticas para induzir tolerância à insulina nos modelos de diabetes tipo 1”, explica o pesquisador.
Quando a nanopartícula carregada de alérgeno é injetada na corrente sanguínea, o sistema imunológico não está preocupado com ela, porque vê a partícula como detritos inócuos. Em seguida, a nanopartícula e sua carga oculta são consumidas por um macrófago, essencialmente uma célula que limpa os restos celulares e patógenos do corpo. O sistema imunológico desliga o ataque ao alérgeno, e é redefinido para sua atuação normal.
No teste da doença celíaca, a nanopartícula foi carregada com gliadina, o principal componente do glúten na dieta, encontrado em grãos de cereais como o trigo. Uma semana após o tratamento, os pacientes foram alimentados com glúten por 14 dias. Sem tratamento, os pacientes celíacos que consumissem glúten desenvolveriam respostas imunes acentuadas à gliadina e danos no intestino delgado. Pacientes celíacos tratados com a nanopartícula CNP-101 mostraram 90% menos resposta de inflamação imune do que pacientes não tratados. Ao interromper a resposta inflamatória, a nanopartícula CNP-101 mostrou a capacidade de proteger o intestino de lesões relacionadas ao glúten.
Atualmente não há tratamento para a doença celíaca.
“Os médicos só podem prescrever a prevenção do glúten, o que nem sempre é eficaz e tem um alto custo social e econômico para pacientes com doença celíaca”, disse o Dr. Miller. Cerca de 1% da população tem doença celíaca, uma doença auto-imune grave em que a ingestão de glúten leva a danos no intestino delgado. Quando as pessoas com doença celíaca comem glúten, seu corpo prepara uma resposta autoimune que ataca o intestino delgado.
As doenças autoimunes geralmente só podem ser tratadas com imunossupressores que proporcionam algum alívio, mas prejudicam o sistema imunológico e levam a efeitos colaterais tóxicos. O CNP-101 não suprime o sistema imunológico, mas reverte o curso da doença. “A doença celíaca é diferente de muitos outros distúrbios autoimunes porque o antígeno agressor (gatilho ambiental) é bem conhecido – o glúten na dieta”, disse o Dr. Ciaran Kelly, professor de medicina na Escola Médica da Universidade Harvard e diretor do Centro para a Doença Celíaca em Beth, Israel. “Isso torna a doença celíaca uma condição perfeita para lidar com o uso dessa interessante abordagem de tolerância imune induzida por nanopartículas”.
A nanotecnologia foi licenciada para a empresa COUR Pharmaceuticals Co., uma empresa de biotecnologia sediada em Northbrook e co-fundada pelo Dr. Miller. A COUR desenvolveu o CNP-101, que recebeu o status Fast Track da agência reguladora FDA nos EUA e levou a terapia aos pacientes em colaboração com a farmacêutica Takeda. A Takeda adquiriu uma licença global exclusiva para desenvolver e comercializar este medicamento experimental para a doença celíaca.
“Dada a licença da Takeda, a COUR se concentrará em programas clínicos de alergia ao amendoim e esclerose múltipla no curto prazo e ampliará ainda mais [as aplicações]com o tempo”, disse o Dr. John J. Puisis, presidente e diretor executivo do COUR.
O Dr. Miller, que faz parte do conselho científico da empresa COUR, é bolsista e consultor pago da empresa. A Universidade Northwestern tem interesse financeiro na empresa COUR.
Acesse a notícia completa na página da Universidade Northwestern (em inglês).
Fonte: Marla Paul, Universidade Northwestern. Imagem: Pixabay.
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