Notícia
Plantas medicinais, alimentares e sensoriais: tudo isso no Jardim Funcional do Campus do Sertão
Projeto de extensão envolve estudantes e servidores e pretende ressignificar os espaços do Campus
Elas podem ser alimento – saboroso! -, mesmo não sendo comuns nas prateleiras dos supermercados, podem ser medicinais e ainda compor um jardim paisagístico voltado para a sensorialidade. O Campus do Sertão, em Nossa Senhora da Glória, está construindo um Jardim Funcional. O objetivo é reunir plantas medicinais, as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) e um jardim sensorial – este já em funcionamento, que mudou a cara do Campus.
O Jardim Funcional foi criado como um projeto de extensão, envolvendo servidores técnico-administrativos, docentes e estudantes. A coordenadora, a engenheira agrônoma Profa. Ciaria de Aguiar Freitas Varjão, explica que a ideia surgiu a partir de duas propostas: dar outra vida ao prédio do Campus e permitir aos alunos a convivência com as plantas locais – especialmente a uma aluna, Ângela Cristina Sales, que tem deficiência visual e ressentia-se de não ter acesso a plantas no dia-a-dia.
“Ângela falou sobre isso, conversando com a pedagoga Thamisa Rodrigues, que é técnica em assuntos educacionais do Campus. Quem gosta de planta, sabe dessa relação, realmente é terapêutico. Aí pensamos o que fazer para que Ângela e outros alunos tivessem acesso às plantas, então surgiu o Jardim Sensorial em função disso”, conta a Profa. Ciaria.
O Jardim Sensorial tem por finalidade proporcionar uma experiência humano/natureza através dos sentidos. Desde o início, o Jardim do Campus do Sertão teve a contribuição da Ângela, que se tornou bolsista do projeto.
Jardim dos sentidos
A Profa. Ciaria Freitas observa que não há muitas experiências em jardim sensorial para servirem como parâmetro ou inspiração. “As referências de jardim sensorial que a gente tem são as de que ouvimos falar na televisão, como o Jardim Botânico [o do Rio de Janeiro]; não tínhamos nenhuma referência do que seria um jardim sensorial para o Campus do Sertão”, diz.
A equipe teve então que pensar o jardim a partir de suas próprias tentativas e aprendizados. E com o auxílio de Ângela. Uma das contribuições dela foi “assessorar” no momento de escolher as plantas que seriam cultivadas no jardim.
“Por exemplo, a babosa é uma planta que, na literatura [científica], fala-se que não é legal colocar porque pode despertar o susto [por causa dos espinhos]. Mas ela[Ângela] disse que ‘não, não me assusta’. Então a gente vai contra a literatura, respeitando a experiência dela, essa peculiaridade, de que para ela é confortável”, explica a Profa. Ciaria.
Entretanto, a própria estudante faz a ressalva de que a experiência pode ser diferente para cada pessoa, cega ou não. “O receio era de alguém se furar, mas isso também depende da pessoa, de como ela vai tocar [na planta]”, observa a discente, que é natural de Nossa Senhora da Glória.
Ângela estuda o terceiro ano de Agroindústria e encontrou no Jardim Sensorial uma forma de contribuir, na qual ela é especialista. “Minha colaboração no Jardim Sensorial é ver as plantas que têm cheiro, textura”, conta. Mas quando perguntada se são essas características que ela mais valoriza nas espécies que “aprova” para o Jardim, responde: “Não! Também considero a importância que elas têm”.
A presença de Ângela foi importante também para que outros detalhes fossem observados: em cada planta, há uma placa com os nomes popular e científico escritos em braile. Esse cuidado também foi mantido nas placas indicativas do Jardim.
Apesar do destaque para os sentidos do olfato e do tato, o Jardim Sensorial também recebe cuidados com relação à estética visual. A tarefa do paisagismo coube, no projeto, à engenheira agrônoma Gabrieli Meneses, que ocupa o cargo de técnica em agropecuária na UFS.
Gabrieli já trabalhava com paisagismo no Campus Rural da UFS, em São Cristóvão, e levou sua experiência ao Campus do Sertão, para onde pediu transferência. Ela conta que quando chegou, conheceu o projeto e abraçou a causa. Sua principal atuação é com plantas ornamentais.
Segundo Gabrieli, uma diferença entre o trabalho que ela desenvolvia no Campus Rural e o que agora faz no Jardim Funcional é a variedade das espécies – lida com algumas que não eram usadas em São Cristóvão, devido à diferença climática.
Jardim ambiental
Outra diferença é a sustentabilidade. “Em São Cristóvão tinha outra condição climática, água em abundância”, lembra. No projeto do Campus do Sertão, a equipe usa a água descartada pelos aparelhos de ar-condicionado para irrigar os jardins. “A gente fez uma estimativa de que se usar todos os ares-condicionados, todos os dias, são aproximadamente 800 litros de água por dia [desperdiçados]!”, explica a técnica.
O aspecto ambiental está também no aproveitamento de outros materiais que seriam descartados: latas, bebedouros, vasos sanitários, descargas, caixotes. Todos os objetos foram inseridos na paisagem, com criatividade e bom gosto.
Gabrieli explica ainda que a equipe do projeto de extensão está fazendo a compostagem para produzir o próprio adubo. “Utilizamos o roço [material roçado] dos jardins e o esterco que pegamos na fazenda da Embrapa”, esclarece a servidora. “O objetivo é melhorar o substrato para as plantas”, completa.
As servidoras e estudantes estão iniciando também um minhocário, para produzir fertilizante. “Um dos melhores adubos que existem é o húmus de minhoca”, disserta Gabrieli.
O surpreendente é que tudo isso está sendo constituído em um pequeno espaço do Campus do Sertão. Mas era este, segundo Ciaria Freitas, um dos objetivos do Jardim Funcional. “O sentido era ressignificar os espaços, que eram pequenos, mas que tinham muito branco e concreto”, descreve a coordenadora.
Nativas, mas alimentícias
Quem é do Nordeste provavelmente conhece o maxixe. No sertão, já foi muito popular o maracujá-do-mato (também conhecido por maracujá-da-caatinga). Essas espécies têm em comum o fato de serem alimentícias e de serem nativas de uma parte do território brasileiro.
No entanto, elas têm perdido ou veem diminuído seu consumo pela população dessas localidades. A proposta do uso das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) vêm ganhando força, principalmente no meio acadêmico.
O Jardim Funcional do Campus do Sertão também prevê o cultivo dessas espécies. A estudante de Engenharia Agronômica Maria Rafaela de Lima explica que isso tem a ver com a soberania alimentar. “A FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura] diz que 90% do consumo [de alimentos vegetais] se resume a três ou quatro espécies, como o arroz, o trigo e o milho”, cita. “E a sociedade deixa de lado uma riquíssima biodiversidade”, completa.
A discente defende que isso é cultural, vem acontecendo pela perda do hábito de consumir as plantas locais. Ela acredita que o hábito de consumo das espécies convencionais é uma imposição do mercado. “Cozinhas de restaurantes requintados usam [espécies não convencionais do território brasileiro], mas nem todo mundo tem acesso. Algumas redes de supermercados [comercializam], mas também é seletivo”.
Enquanto isso, a população consome os produtos convencionais ou nem isso, por dificuldade financeira de acesso. “As PANCs, devido à biodiversidade do Brasil, às condições climáticas, à extensão territorial, são encontradas de norte a sul, de sul a norte”, aponta Rafaela. “Às vezes pode faltar a alimentação na mesa, mas por falta de conhecimento, as pessoas descartam [as PANCs]”, observa, “e elas podem nascer nos canteiros, nas ruas, nas praças, no seu quintal”.
Outro aspecto favorável às PANCs é que, por serem nativas, não necessitam de agrotóxicos ou fertilizantes. Nascem espontaneamente em qualquer terreno, por isso são tratadas como mato por muita gente.
Rafaela destaca que o consumo das PANCs favorece a agricultura familiar, porque em qualquer área, mesmo pequena, elas podem ser cultivadas. Segundo a estudante, isso implica também na preservação ambiental. “Você preserva o seu espaço e, daquele espaço, você tira a alimentação”, pontua.
No Jardim Funcional, o objetivo é focar nas espécies típicas da caatinga: o umbuzeiro, o maxixe, o maracujá-do-mato. O consumo dessas plantas é relativamente comum na zona rural, mas na cidade é limitado.
Para difundir e conscientizar as pessoas sobre as PANCs,o projeto de extensão prevê estratégias educativas com a comunidade. “A gente quer uma proposta na questão da parte agronômica, do valor sócio-econômico e cultural”, conclui Rafaela.
Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de Sergipe.
Fonte: Marcilio Costa, UFS. Imagem: Divulgação.
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