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Estudos relacionam consumo alimentar à emissão de gases de efeito estufa

Gêneros alimentícios de origem animal – especialmente carne bovina e laticínios – lideram o ranking de alimentos cuja produção ocasiona mais emissões de gases do efeito estufa

Pixabay

Fonte

UFSCar | Universidade Federal de São Carlos

Data

sábado, 5 maio 2018 17:00

Áreas

Agricultura. Agronomia. Ciências Agrárias. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Nutrição de Coletividades

Gêneros alimentícios de origem animal – especialmente carne bovina e laticínios – lideram o ranking de alimentos cuja produção ocasiona mais emissões de gases do efeito estufa, sendo responsáveis por 93% a 98% das emissões, dependendo da região do País. Já entre os alimentos de origem vegetal, a produção do arroz desponta como principal responsável pela emissão desses gases. A conclusão faz parte dos resultados de duas pesquisas do Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGE-So) do Campus Sorocaba da UFSCar. Os estudos de mestrado foram realizados entre março de 2017 e março de 2018, pelas alunas Gabriella Nunes da Costa e Giovanna Tavares de Camargo Simões, com orientação do professor Danilo Rolim Dias de Aguiar, do Departamento de Economia (DEc-So).

“O sistema agroalimentar tem afetado as mudanças climáticas por ser uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE), sobretudo de metano – pela fermentação entérica do gado e pelo cultivo de arroz; óxido nítrico, em virtude do manejo dos solos e do uso de fertilizantes nitrogenados; e dióxido de carbono, devido ao uso de combustíveis fósseis nos vários segmentos da cadeia agroindustrial”, elenca Aguiar. “Essas emissões variam de produto para produto, mas nesse cenário, a criação de gado bovino apresenta dados alarmantes e, segundo alguns autores, é responsável por quase 20% das emissões mundiais de GEE”, destaca o professor.

De acordo com ele, as pesquisas da UFSCar trazem informações inéditas sobre as emissões de GEE associadas às dietas alimentares no Brasil e podem ajudar no planejamento de políticas visando minimizar o problema. “Apesar de a adoção de dietas ambientalmente corretas por parte dos brasileiros não ser suficiente para reduzir substancialmente as emissões do nosso setor agrícola – já que muito do que produzimos se destina aos mercados externos -, um novo padrão de consumo dentro do País poderia juntar forças com tendências similares que estão ocorrendo internacionalmente e induzir nossa agricultura em direção à produção de baixo carbono”, defende o orientador.

As emissões e a dieta dos brasileiros
Aguiar explica que, buscando por soluções para o aumento do efeito estufa, alguns pesquisadores enfocam a produção, sugerindo que os próprios sistemas de produção devem mudar para reduzir as emissões. Outros, no entanto, enfocam o consumo, argumentando que os consumidores precisam mudar suas dietas para que as emissões diminuam. “Nossas pesquisas seguem o enfoque do consumo, tendo como objetivo investigar quais são as diferenças – em termos de emissões – entre as dietas consumidas por indivíduos de diferentes níveis de renda que vivem em diferentes regiões do País”, explica o professor.

“As emissões de GEE estão positivamente correlacionadas à renda, uma vez que indivíduos de maior renda são justamente aqueles que ingerem mais produtos de origem animal. Verificamos também que os moradores das capitais localizadas no Norte do Brasil têm dietas com mais impacto ambiental do que os moradores de outras regiões, enquanto que, para o Estado de São Paulo, as dietas de pessoas do meio rural ou de cidades pequenas ’emitem’ mais do que a dos moradores da cidade de São Paulo e da região metropolitana”, detalha Aguiar.

Além disso, as pesquisas buscaram identificar se os impostos cobrados sobre os alimentos são coerentes com o custo ambiental causado por eles – o que poderia desencorajar a produção e o consumo dos alimentos com maiores impactos ambientais. “No entanto, os impostos atuais são muito baixos para os alimentos que mais emitem GEE e muito altos para os de baixo impacto ambiental, o que pode estar restringindo o consumo de alimentos de baixo impacto e estimulando o consumo de produtos associados a maiores emissões”, analisa o orientador.

Padrão de consumo e políticas públicas
O professor afirma que, caso os consumidores alterassem suas dietas, seria possível reduzir significantemente as emissões de GEE, uma vez que as produções de alguns alimentos emitem muito mais do que outras. Mas, a viabilidade de mudança de dieta dependeria também da qualidade nutricional das dietas de menor impacto ambiental. “Aparentemente, há espaço para alterações nos padrões de consumo, uma vez que identificamos que, em média, os consumidores com renda mensal acima de três salários mínimos têm acesso ao dobro do que necessitam em termos de calorias e quase quatro vezes mais do que necessitam em termos de proteínas”, revela Aguiar. “A ingestão de proteínas, cujas fontes são justamente os maiores emissores de GEE, mostra-se, em média, suficiente até mesmo para os consumidores de menor renda, e excessiva para os demais. Porém, os consumidores mais pobres não têm acesso às quantidades de calorias necessárias, o que indica que se a aplicação de impostos ambientais fosse considerada, aumentos precisariam vir acompanhados de políticas sociais voltadas aos mais pobres”, afirma o pesquisador.

“Estudos como os nossos fornecem informações úteis aos consumidores preocupados com o impacto de suas dietas no meio ambiente e também aos gestores públicos que queiram implementar políticas públicas para redução das emissões de GEE”, complementa ele. Pois, independentemente da natureza das políticas – sejam programas de educação aos consumidores ou a aplicação de impostos ambientais, entre outras -, elas dependerão de informações sobre o comportamento dos consumidores para que possam ser adequadamente planejadas.

Fonte: Denise Britto, UFSCar. Imagem: Pixabay

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