Notícia
Estudo atualiza informações sobre plantas
Conhecimento popular a respeito de muitas espécies identificadas, no século 18, pelo pioneiro da botânica brasileira, Frei Vellozo, estava esquecido
Foca Lisboa, UFMG
Fonte
UFMG | Universidade Federal de Minas Gerais
Data
terça-feira, 17 abril 2018 11:10
Áreas
Agricultura. Agronomia. Ciências Agrárias. Nutrição Funcional
Quase duas mil espécies vegetais encontradas nas matas brasileiras do século 18 e descritas na primeira obra de botânica do país foram revisadas em minucioso trabalho de recuperação de dados e imagens. Com base em material organizado à época pelo frei Mariano da Conceição Vellozo, a professora Maria das Graças Lins Brandão, da UFMG, identificou 371 plantas úteis e medicinais, cujas informações, atualizadas e organizadas, serão reunidas em livro.
Projeto selecionado na primeira edição do Programa Professor Residente no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, o trabalho gerou diversas atividades com professores e alunos das redes públicas da região, onde nasceu Frei Vellozo (1742-1811). A busca por maior inserção da Universidade na comunidade local é uma das características do Programa, que recebe inscrições até 21 de maio para a segunda edição.
“A execução desse projeto possibilita a recuperação e a divulgação de dados e imagens de espécies descritas por Frei Vellozo, até então desconhecidas e sem a devida interpretação”, afirma a pesquisadora. Ela ressalta que, além de ampliar o conhecimento sobre a riqueza da biodiversidade brasileira, da vegetação local e de suas tradições, o projeto contribui para que a população veja a ciência “como o melhor instrumento de valorização e valoração das plantas”.
Espécies resilientes
Carqueja, pimenta rosa e ora-pro-nobis são algumas das 1.639 espécies vegetais reunidas por Frei Vellozo, em 1790, nos 11 volumes da Florae Fluminensis. “O conhecimento popular sobre muitas outras plantas descritas na obra, como a congonha e a língua de tucano, foi esquecido”, lamenta a pesquisadora. Algumas são bastante conhecidas e usadas ainda nos dias de hoje, como Stryphnodendron adstringens (barbatimão), Bidens pilosa (picão preto) e o Phyllanthus niruri(quebra-pedra). “A capeba (Piper umbellatum L., família Piperaceae), por exemplo, que hoje é considerada uma panc [planta alimentícia não convencional], foi citada por Vellozo como aperiente, isto é, que abre o apetite”, comenta Maria das Graças. Atualmente é bastante estudada e tem efeito confirmado para tratamento de problemas hepáticos.
A espécie Petiveria alliacea L., da família Phytolaccaceae, é conhecida como pipi, nome atribuído por Vellozo. Exala forte cheiro de alho e já foi usada como tempero. Na obra Florae Fluminensis, o autor diz que a planta “tem odor forte, principalmente as raízes”, e informa: “as pessoas do interior e os africanos a usam como remédio”. Já a Piper aduncum L., da família Piperaceae, foi descrita assim pelo botânico: “pimenta chamada apertarruão porque é adstringente e usada pelas mulheres para voltar a ter a sensação de virgindade.” A planta é conhecida hoje também pelo nome de falso jaborandi, devido a sua atuação eficaz contra a queda de cabelos. Ela contém taninos que desencadeiam atividade adstringente.
A Eryngium pristis foi denominada por Vellozo como “língua de tucano”, e a descrição que fez dela dava conta de que sua preparação era usada como gargarejo na inflamação da garganta. Trata-se de uma espécie nativa pouco conhecida e usada hoje. “Não há estudos que comprovem ação anti-inflamatória”, esclarece Maria das Graças, que fotografou a planta no Parque das Águas Santas, de São João del-Rei. A pesquisadora ressalta que o naturalista trabalhou com a chamada informação primária, em um tempo “em que as pessoas usavam as plantas, ainda havia as florestas e seus moradores, os índios”.
A metodologia de trabalho de Maria das Graças Lins Brandão consistiu, inicialmente, em analisar a obra de Vellozo e traduzir o texto, originalmente escrito em latim, com a colaboração de Juliana de Paula-Souza, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), e do padre Lauro Palú, do Santuário Caraça. Na etapa seguinte, a pesquisadora desenvolveu extensa e minuciosa revisão das informações disponíveis, assinalando todas as plantas que continham alguma informação referente a nomes populares (indígenas, portugueses e brasileiros), a usos tradicionais e a cultivo em hortas e quintais, o que sugere alguma utilidade da planta.
“Aquelas que continham esses dados foram extraídas e organizadas em tabela. Conseguimos recuperar dados sobre 371 espécies, nativas e exóticas, presentes na obra. O passo seguinte foi atualizar os nomes científicos”, informa Maria das Graças. Esse trabalho foi realizado pela botânica Juliana de Paula-Souza.
A etapa de trabalho de campo visou localizar e registrar, em Tiradentes e no entorno, as plantas úteis e medicinais recuperadas na obra. Foram feitas excursões que possibilitaram localizar e capturar imagens atuais de diversas espécies. Parte dos trabalhos contou com a colaboração de Luiz Cruz, conhecedor da flora local. Outras expedições foram apoiadas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) de São João del-Rei. Imagens de dezenas de plantas foram obtidas tanto no município de Tiradentes quanto nas serras de São José e dos Lenheiros.
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Fonte: Ana Rita Araújo, UFMG Imagem: Foca Lisboa, UFMG
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