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Dieta materna durante a lactação pode afetar as bactérias do leite

Fonte

BCM | Baylor College of Medicine

Data

quinta-feira, 17 dezembro 2020 10:35

Áreas

Nutrição Clínica. Nutrição Materno Infantil

Pesquisa mostrou que o leite humano é a fonte ideal de nutrição para neonatos e bebês. Ele confere proteção contra doenças infantis com risco de vida, como a enterocolite necrosante, e também contra doenças de início tardio em adultos, como obesidade, diabetes e doenças inflamatórias intestinais.

Evidências científicas sugerem que a alimentação da mãe enquanto está amamentando pode modular a composição do leite materno, mas os mecanismos subjacentes envolvidos não foram elucidados.

Em novo estudo publicado na revista científica Nature Scientific Reports, pesquisadores da Baylor College of Medicine, do Hospital Infantil do Texas e de outras instituições descreveram um mecanismo natural que pode modificar os benefícios do leite materno.

Pesquisadores relataram a primeira evidência de que a dieta da mãe durante a amamentação pode moldar o perfil dos oligossacarídeos do leite humano (HMO), um tipo de carboidrato complexo do leite materno. Mudar os HMOs, que são alimentos para micróbios saudáveis, por sua vez modifica as habilidades funcionais do microbioma do leite. Foi proposto que o estabelecimento de um microbioma saudável no recém-nascido e na criança influencia a saúde metabólica ao longo da vida.

“Em trabalhos anteriores com humanos e primatas, descobrimos que o que uma mulher grávida come durante a gravidez tem a capacidade de afetar a saúde metabólica de seu filho ao longo da vida. No presente estudo, apresentamos as primeiras evidências que mostram que a dieta de uma mãe que amamenta pode afetar diretamente a composição do HMO do leite ”, disse a autora sênior, Dra. Kjersti Aagaard, professora da Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos.

“Isso foi particularmente emocionante, uma vez que os HMOs são basicamente substâncias inertes para a mãe ou seu bebê. No entanto, eles exercem seus benefícios para a saúde agindo como alimento para micróbios – bactérias e alguns vírus. Este parece ser um exemplo muito interessante em que o que comemos afeta os micróbios por meio de um intermediário (os HMOs), mas não nos beneficiamos diretamente. Isso nos dá um vislumbre fascinante do que nós e outros acreditamos ser um processo natural de coevolução ”, disse a Dra. Kjersti Aagaard.

Trabalhando com o Dr. Morey Haymond, professor de pediatria e nutrição em Baylor, a equipe de pesquisadores fornecia todas as refeições às mães que amamentavam em um ambiente controlado no Centro de Pesquisa em Nutrição Infantil do USDA. As mães consumiram determinada dieta por 30 a 70 horas. Depois de um período de duas semanas, a mesma mulher teve uma alimentação diferente, também fornecida pelos pesquisadores.

Os pesquisadores coletaram cuidadosamente amostras de leite de cada mãe em diferentes momentos, incluindo as “mudanças” de dieta. Dessa forma, cada mulher poderia servir como seu próprio controle, algo conhecido como um desenho de estudo “cruzado”. Isso ajudou os pesquisadores a controlar a possibilidade de como as mulheres podem variar de uma para outra na quantidade de HMOs, bem como a possibilidade de confundir micróbios no leite com contaminantes ambientais. A equipe analisou o HMO e a composição do microbioma do leite e obteve pistas sobre o efeito da dieta das mães.

“Descobrimos que diferentes fontes de carboidratos e energia nas dietas maternas que fornecemos alteraram preferencialmente as concentrações de HMOs no leite, e isso foi acompanhado por mudanças na capacidade metabólica do microbioma do leite”, disse o primeiro autor, Dr. Maxim Seferovic. “Não é que a dieta materna em si esteja afetando diretamente os micróbios, mas que a dieta afeta os alimentos dos micróbios, os HMOs, que por sua vez moldam a capacidade funcional da comunidade de micróbios no leite que será consumido pelo bebê . Curiosamente, as mudanças no HMO ocorreram rapidamente, em questão de 2 a 3 dias, depois que as mães mudaram sua dieta, completou o pesquisador. ”

Os pesquisadores propõem que as descobertas podem ter implicações não apenas para o bebê, mas também para a mãe.

“Propomos que nossas descobertas podem ter efeitos potenciais na saúde e no desenvolvimento do bebê, incluindo o potencial de promoção da integridade intestinal saudável na superfície da mucosa. HMOs alimentam certas comunidades microbianas, e tem sido sugerido que o estabelecimento dessas comunidades microbianas é provavelmente importante para o desenvolvimento neonatal da função cerebral ”, disse a coautora Dra. Melinda Engevik, pós-doutoranda em patologia e imunologia. “Especulamos que ter certos HMOs promove o crescimento de certos micróbios no leite, que então passam para o bebê e podem promover um desenvolvimento saudável”.

“Outro aspecto interessante de nosso estudo é a sugestão de que os HMOs parecem afetar preferencialmente o potencial de crescimento de micróbios que também podem trazer riscos à saúde ou benefícios para a mãe. Por exemplo, moldando a comunidade de micróbios no leite de forma a favorecer o crescimento de certos micróbios benéficos por meio da exclusão simultânea daqueles que causam mastite durante a amamentação ”, disse Dra. Kjersti Aagaard.

Se não for tratada com antibióticos, a mastite ou a inflamação dolorosa do tecido mamário que normalmente envolve uma infecção, impede a amamentação e pode se tornar uma doença grave.

Os HMOs também podem estimular um microbioma saudável de outras maneiras. Por exemplo, alimentando os micróbios bons, agindo como uma isca que atrai e sequestra micróbios potencialmente perigosos e quebrando HMOs e produzindo nutrientes que podem beneficiar outros micróbios.

Acesse o artigo científico completo (em inglês),

Acesse a notícia completa na página da Baylor College of Medicine (em inglês).

Fonte: Homa Shalchi, Baylor College of Medicine. Imagem: Pixabay.

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