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Café em excesso aumenta a chance de pressão alta em pessoas predispostas

Pesquisadores observaram a associação apenas em indivíduos que consumiam mais de três xícaras da bebida por dia. Consumo moderado, por outro lado, parece ter efeito benéfico sobre o sistema cardiovascular

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Fonte

Agência FAPESP

Data

quarta-feira, 17 julho 2019 10:35

Áreas

Nutrição Clínica. Nutrição Coletividades. Nutrição Funcional. Saúde Pública

O hábito de consumir mais de três xícaras de café por dia aumenta em até quatro vezes a chance de indivíduos geneticamente predispostos apresentarem níveis elevados de pressão arterial. A conclusão é de um estudo feito na Universidade de São Paulo (USP) e divulgado na revista científica Clinical Nutrition e apoiado pela FAPESP, baseou-se em dados de 533 pessoas entrevistadas no Inquérito de Saúde do Município de São Paulo (ISA-Capital 2008), estudo de base populacional que abrange a área urbana da capital e avalia as condições de saúde dos moradores. Não foi observada associação significativa entre a bebida e os níveis de pressão arterial no caso de pessoas que consumiam até três xícaras ao dia.

“Esses achados destacam a importância de moderar o consumo de café para a prevenção da pressão alta, particularmente em indivíduos geneticamente predispostos a este fator de risco cardiovascular”, disse a Dra. Andreia Machado Miranda, pós-doutoranda no Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP) e primeira autora do artigo, à Agência FAPESP.

Foram considerados como pressão arterial elevada valores acima de 140 por 90 milímetros de mercúrio (mmHg). Em um trabalho anterior, também feito com base nos dados do ISA-Capital 2008, a Dra. Miranda havia observado que o consumo moderado de café (de uma a três xícaras diárias) tem efeito benéfico sobre alguns fatores de risco cardiovascular – particularmente a pressão arterial e os níveis sanguíneos de homocisteína, aminoácido relacionado com o surgimento de alterações nos vasos sanguíneos, infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Nessa primeira análise, não foram incluídos os dados genéticos.

“Decidimos, no estudo mais recente, investigar se em indivíduos que apresentam fatores genéticos que predispõem à hipertensão o consumo de café teria influência nos níveis de pressão arterial”, disse a Dra. Miranda.

Por meio de um questionário aplicado aos mais de 3 mil participantes, o ISA-Capital 2008 obteve dados sociodemográficos e de estilo de vida, como idade, sexo, raça, renda familiar per capita, atividade física e tabagismo. Também foram feitos dois recordatórios para avaliação do consumo alimentar e coleta de sangue para análises bioquímicas e extração de DNA para genotipagem. Foram ainda medidos, durante visita domiciliar feita por um técnico de enfermagem, o peso, a altura e a pressão arterial dos voluntários.

Uma amostra representativa de 533 adultos e idosos foi selecionada para as análises conduzidas na FSP-USP. Entre os critérios de inclusão estavam: a presença de informações sobre o consumo diário de café e sobre a presença ou não das variantes genéticas de risco para pressão elevada.

Com base em informações descritas na literatura científica, os pesquisadores identificaram no rol de dados disponíveis no ISA-Capital 2008 quatro polimorfismos (variantes dos genes estudados) capazes de indicar predisposição à hipertensão: CYP1A1 / CYP1A2 (rs2470893, rs2472297); CPLX3/ULK3 (rs6495122); e MTHFR (rs17367504).

Foi então criado um escore genético de risco que variava de zero a oito. Se o indivíduo fosse homozigótico dominante (nenhum alelo variante) obtinha a pontuação zero, se fosse heterozigótico (um alelo variante) obtinha a pontuação um e, caso fosse homozigótico recessivo (dois alelos variantes), dois. O escore final é obtido pela soma do número de alelos de risco dos quatro polimorfismos analisados.

O consumo de café foi dividido em três categorias: menos de uma xícara ao dia; de uma a três; e mais de três xícaras diárias.

“Fizemos uma análise de associação desses três fatores: escore genético de risco, consumo de café e valor da pressão arterial. Usando um método estatístico conhecido como regressão logística múltipla, incluímos outras variáveis de ajuste que poderiam influenciar o resultado, como idade, sexo, raça, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, índice de massa corporal, atividade física e uso de medicação anti-hipertensiva”, explicou Miranda.

As análises estatísticas mostraram que, à medida que aumentava o escore de risco e a quantidade de café consumida, crescia também a chance de o indivíduo apresentar pressão alta. Nos voluntários com pontuação mais elevada e consumo diário superior a três xícaras, a chance de pressão alta foi quatro vezes maior que a de pessoas sem predisposição genética.

“Como a maior parte da população não tem ideia se é ou não predisposta a desenvolver hipertensão – para isso seria necessário sequenciar e analisar o genoma –, o ideal é que todos façam um consumo moderado de café que, ao que tudo indica, é benéfico à saúde do coração”, disse a Dra. Miranda.

Segundo a pesquisadora, estudos recentes mostraram que consumir moderadamente a bebida pode ajudar a prevenir a calcificação da artéria coronária. O efeito benéfico é atribuído aos polifenóis, compostos bioativos encontrados em abundância no café. Já a ação sobre a pressão arterial, segundo a Dra. Miranda, está relacionada à cafeína.

De acordo com as diretrizes mais recentes da American Heart Association, em indivíduos saudáveis o consumo moderado de café não aumenta o risco de doenças cardíacas e não está associado a prejuízos à saúde no longo prazo.

Desdobramentos

A pesquisa de doutorado da Dra. Miranda foi orientada pela professora da FSP-USP Dra. Dirce Marchioni. Agora, no pós-doutorado, também com apoio da FAPESP, o objetivo é avaliar o efeito do consumo de café em pacientes portadores de doença cardiovascular – particularmente a síndrome coronariana aguda, causada por obstrução na artéria coronária, que irriga o coração.

O grupo pretende analisar, durante quatro anos, os dados de acompanhamento de 1.085 pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio ou angina instável, foram atendidos no Hospital Universitário da USP e integram a coorte do estudo longitudinal Estratégia de Registro de Insuficiência Coronariana (Erico).

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na Agência FAPESP.

Fonte: Karina Toledo, Agência FAPESP. Imagem: Freepik.

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